Borda Fora
Michel Vinaver
Outubro de 1991
Teatro Garcia de Resende
Évora
Centro Cultural de Évora
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Michel Vinaver. Escritor e dramaturgo francês. Em 2006, ele foi premiado com o Grande Prêmio du Théâtre de L’Académie Française.
MICHEL VINAVER – SOBRE “BORDA FORA”
“Não há, em Borda Fora, personagem central a não ser à própria empresa,e, no interior da empresa, figuras mais do que personagens. Não sei se se pode ligar esse facto a de Gaulle e ao episódio histórico do gaullismo, mas em todo o caso o meu regresso ao teatro produziu-se através do apagamento da personagem. O que vem em vez da personagem não é um
vazio mas sim qualquer coisa de novo no meu percurso, de novo talvez mesmo num plano mais vasto, a saber que o lugar antes ocupado pela ou pelas personagens é agora ocupado por um sítio, e por uma população que habita esse sítio, uma existência plural à partida.
(…) sendo a empresa uma empresa de papel higiénico, é de merda que se trata em todos os Processos vitais e mentais da sociedade; mas mais precisamente, pode definir-se esta peça dizendo que ela põe em jogo a dupla hélice da digestão e da excreção. Esta dupla hélice, sem que tivesse havido alguma intenção metafórica, é o meio de contar como funciona o sistema económico em que nos encontramos, como funcionam as pessoas no meio desse sistema, e como há inter-relação entre o funcionamento do sistema € os diferentes funcionamentos individuais,
(…) Há, com Borda Fora, como que um reencontro com a linguagem. Com uma linguagem que não é forçosamente verdadeira ou certa em relação ao falso, são estas categorias que desaparecem. Elas voltarão depois, mas ali, naquela peça, elas desaparecem porque cada um dos que falam está a tal ponto ligado a uma função no sistema que a palavra, mesmo quando grotesca, e ela pode sê-lo como pode ser neutra, está enraizada. Há um enraizamento e, desse ponto de vista, há como que uma espécie de sobressalto de esperança em comparação com as outras peças. A palavra não tem um carácter devastado, e eu penso que isso tem a ver com uma deslocação do que tinha sido a minha referência até esse momento, isto é, a tragédia grega e também a comédia grega, para uma outra forma que é a epopeia, e muito precisamente a Ilíada. Enquanto trabalhava Borda Fora tinha a Ilíada em filigrana na cabeça porque, para mim, a guerra económica que eu contava tinha um carácter épico, não no sentido que Brecht dá ao termo, mas no sentido da epopeia homérica. Em que é que esta se define? De peripécia em peripécia, há uma jubilação do instante presente na sua realização; há uma ausência de medo perante a morte, de medo do futuro, uma ausência de relação forte com o passado; tudo está em pico, em cume sobre o instante. Ora parecia-me que o sistema económico em batalha, no momento em que eu escrevia Borda Fora, só podia ser compreendido através desta referência histórica à epopei
(Excertos duma entrevista de Michel Vinaver com Jean Loup Rivitre publicada no nº 47 de Repertoire du Théârre Populaire Romand)
Ficha Técnica:
Tradução: Christine Zurbach e Luís Varela
Encenação: Pierre-Etienne Heymann
Assistente de encenação: José Russo e João Sérgio Palma
Cenografia e Figurinos: José Carlos Faria
Organização musical: Gil Salgueiro
Adereços: António Canelas
Guarda-roupa: Natividade Pereira
Coreografia/movimento: Ana Moura
Direcção de produção: Josefa Costa
Direcção técnica e Iluminação: João Carlos Marques
Operação de luz: António Rebocho
Operação de som: Nuno Finote
Direcção de montagem/construção: António Galhano
Maquinistas: Joaquim Medina, Carlos Oliveira e Victor Fialho
Costureiras: Mariana do Vale, Vitória Almaça, Alcina Casbarra e Maria Teresa Ferreira
Fotografia de cena: Álvaro Corte-Real e Nuno Finote
Grafismos: Cristina Oliveira e Acácio Carreira
Secretariado: Ana Pereira
Registo de vídeo e apoio publicitário: Cendrevídeo
Técnicos de iluminação: António Plácido e António Rebocho
Músicos/execução musical: Gil Salgueiro Nave, António Baguinho e Luís Cardoso
Bailarinos: Carla Fernandes, Carlos Rosado e Nélia Pinheiro
Actores: Fernando Mora Ramos, Mário Barradas, Carla Fernandes, Nélia Pinheiro, Carlos Rosado, João Sérgio Palma, Rui Nuno,
Isabel Lopes, Isabel Bilou, Álvaro Corte-Real, José Russo, Victor Santos, Jorge Baião, António Plácido, João Azevedo, Vicente deSá, Ana Meira, Maria João Toscano, Rosário Gonzaga, Gil Salgueiro Nave, António Baguinho e Luís Cardoso
Estreia no Teatro Garcia de Resende, Évora, em outubro de 1991
Évora: 26 sessões, 3.027 espectadores
Digressão: 7 sessões, 751 espectadores