Florbela, Florbela!
Filomena Oliveira e Miguel Real
15 de novembro, 2024
Cineteatro Municipal de Serpa
Serpa
CENDREV e ÉTER, Produção Cultural
Maiores de 12
80 minutos
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“CONDENSAR O MUNDO NUM SÓ GRITO!”
Celebrando os 50 anos do 25 de Abril, quando se perfazem 130 anos do seu nascimento e é publicado, em Portugal e no Brasil um grande dicionário da sua obra, “FLORBELA, FLORBELA” é uma homenagem a Florbela Espanca através de um espetáculo que interpreta a sua obra e a sua vida.
Este espetáculo conta com três personagens: 1 – atriz que representa a poetisa; 2 – atriz atual que interpreta o papel de Florbela Espanca na peça; 3 – encenadora e autora da peça teatral.
As três personagens, desenvolvem uma relação de conflito, aproximação / afastamento, apreço / crítica entre si, revelando não só os principais momentos da vida de Florbela, os seus dramas e paixões, a forte crítica social preconceituosa da época em que viveu, como as tensões existentes entre si, entre a mentalidade atual e a mentalidade da época em que viveu Florbela, entre os preconceitos de ontem e os de hoje. Todas estas tensões explodem e confluem para a criação do espetáculo dramático e lírico destas três mulheres / personagens.
“FLORBELA, FLORBELA” intenta homenagear esta poetisa de origem alentejana, através de um espetáculo que interpreta a sua obra e a sua vida (1894 – 1930), nascida em Vila Viçosa, que estudou e viveu em Évora, antes de se deslocar para Lisboa, tendo morrido em Matosinhos.
Esta peça é igualmente uma homenagem à mulher portuguesa, sobretudo à mulher do interior, que, mais do que a das grandes cidades, viveu durante o regime do Estado Novo segundo um estatuto social de opressão e de humilhação. Com efeito, Historicamente, ao longo do século XX, a poesia de Florbela foi enredada em dois labirintos que a ultrapassavam e de certo modo a deformavam, ou, pelo menos a inclinavam hiperbolicamente num sentido exterior à sua poesia: 1. – o labirinto das representações culturais portuguesas, no qual Florbela sofre da condição inferior do estatuto da mulher ao longo do regime do Estado Novo, para lhe ser feita justiça após a instauração do regime democrático em 1974; 2. – o labirinto das sucessivas disputas hermenêuticas literárias, que ora acolhiam, ora diabolizavam a sua obra.
Do primeiro, nasce a imagem de Florbela como mulher angustiada, que a dor, o sofrimento e a desadaptação social convertem genialmente em poesia lírica, exprimindo as emoções prevalecentes na natureza feminina. Este é o núcleo central da imagem de Florbela face aos quadros mentais do Estado Novo: uma mulher romântica, desequilibrada, incapaz de reprimir e esconder os seus desejos sensuais femininos.
Face a este núcleo central, desenha-se, ao mesmo tempo, uma outra imagem social que pode ser designada por contra-mito: Florbela tinha sido uma mulher livre, que rompera a barreira dos preconceitos conservadores, nacionalistas e tradicionalistas da sociedade portuguesa patriarcal. Em síntese, alguns sonetos são vistos como libertinos, expressão de uma espécie de D. Juan feminina, outros recolhem a tradição portuguesa da mulher sofrida, esmagada pela sociedade, vivência comum à mulher urbana, popular, esposa, mãe e dona de casa.
“FLORBELA, FLORBELA” ressuscita estas vivências em palco através de três mulheres, tornando-se, assim, um tributo à memória da cultura portuguesa do século XX.
Miguel Real
LINHAS DRAMATÚRGICAS e NOTAS DE ENCENAÇÃO
Uma escrita dramatúrgica e um espetáculo que pretendem que o público reflita connosco sobre o que se passa no palco. Intenta-se que o espetador seja estimulado a pensar a vida de Florbela tanto como se fosse uma construção de ontem, como com momentos similares atuais. As tensões múltiplas da vida de Florbela, a que o espetador assiste, são transpostas para o tempo de hoje, não o tempo em que Florbela viveu.
O espetáculo consiste num ensaio para a criação do espetáculo “FLORBELA, FLORBELA”.
Três mulheres: Uma de há 100 anos, Florbela, e duas atuais, a Atriz e a Encenadora, de duas gerações diferentes.
Dois espaços e dois tempos com 100 anos de distância: 1920 e 2024. Sala de Florbela de há 100 nos, mais elevada, que nos transporta para a sua época, e espaço de trabalho da Encenadora e da Atriz, o palco.
Encenadora e Atriz invocam Florbela para lhe fazer perguntas, esclarecer dúvidas, discutir ideias. Ora estão em tempos diferenciados, ora rompem o tempo e encontram-se as três num tempo presente. Florbela fala do que sente, deseja, de momentos da sua vida, das suas certezas, arrependimentos, mágoas.
Encenadora e Atriz pesquisam, trocam ideias, questionam-se, afirmam convicções. Por vezes as respostas às suas perguntas são dadas por Florbela sem comunicação, outras vezes comunicam diretamente. Umas vezes discordam, outras estão de acordo. Também nos gestos, nos movimentos, Florbela e Atriz, ora são díspares, ora se harmonizam, tornando-se uma só. Esse é o desígnio da Encenadora, que a Atriz se transforme em Florbela.
Cenário, figurinos, luzes, música e orgânicas sonoras caracterizam os dois tempos, o de há 100 anos e a atualidade. Imagens simbólicas revelam a imaginação e os grandes temas da vida e da obra de Florbela.
Por último, um agradecimento muito especial a toda e a equipa e ao CENDREV.
MUITO OBRIGADA.
Filomena Oliveira
ORGÂNICA SONORA, ILUMINAÇÃO E VÍDEO
Foi um desafio fazer nascer a música para este espetáculo, ainda mais dar-lhe vida em palco e fazê-la dialogar com o texto, as atrizes, a cenografia, a iluminação e o vídeo, de forma a criarmos uma bolha una que contagie o espectador. Sendo a narrativa um ensaio de uma peça de teatro sobre Florbela Espanca, temos uma história dentro de uma outra história. Afastamo-nos, assim, de um conceito de época para um tempo transversal com uma margem de 100 anos de história. Desta forma, a música tanto se aproxima da poesia de Florbela como de vetores eletrónicos próprios da passagem do Séc. XX para o Séc. XXI. Assim se caracteriza o conceito de Orgânica Sonora, unindo a composição musical com a sua coexistência num ecossistema complexo de dimensões inerentes ao espetáculo. O sincronismo com a iluminação e a utilização de inteligência artificial na produção de vídeos sublinham a procura de uma abordagem orgânica dos vários média na operação técnica do espetáculo. A música procura, neste contexto, um equilíbrio entre o dramatismo da condição humana sôfrega, inevitável, absorta na profunda tristeza, e um derradeiro rasgo de esperança e reivindicação da vida em plenitude e liberdade, próprios do lirismo trágico de Florbela Espanca.
David Martins
CENÁRIO, FIGURINOS E ADEREÇOS
Florbela e Florbela… um desdobramento, dela mesma e o das atrizes que a representam.
A Vida corre em planos paralelos, desenrolando-se em tempos diferentes – no palco e fora dele vive-se com a memória.
Convocar passado e presente num mesmo espaço é uma constante dessa memória que se vai revelando em territórios feitos de palavra e adereços, figurinos e cenário.
Que o teatro possa ser sempre um testemunho de vida, alerta e liberdade.
Helena Calvet
FICHA ARTÍSTICA
TEXTO E DRAMATURGIA: Filomena Oliveira e Miguel Real
ENCENAÇÃO: Filomena Oliveira
INTERPRETAÇÃO: Carla Chambel, Maria Marrafa, Rosário Gonzaga
DESENHO DE LUZ, MÚSICA ORIGINAL, ORGÂNICA SONORA E VÍDEO: David Martins
CENÁRIO, FIGURINOS E ADEREÇOS: Helena Calvet
COMUNICAÇÃO: Helena Estanislau
FOTOGRAFIA E VÍDEO PROMOCIONAL: Carolina Lecoq
DIREÇÃO DE PRODUÇÃO E GESTÃO FINANCEIRA: Cláudia Silvano
PRODUÇÃO EXECUTIVA E ASSISTÊNCIA DE CENOGRAFIA E FIGURINOS: Beatriz Sousa
PROGRAMAÇÃO E CIRCULAÇÃO: Patrícia Hortinhas
TRADUÇÃO LGP: Associação de Surdos de Évora – Núria Galinha
CONSTRUÇÃO DE CENÁRIO: Helder Cavaca com colaboração de João Concha
DESIGN GRÁFICO: Alexandra Mariano
DIREÇÃO TÉCNICA: António Rebocho
OPERAÇÃO DE LUZ E SOM: David Martins e Pedro Viegas
APOIO TÉCNICO: Fabrísio Canifa
ESTAGIÁRIO ERAMUS+ DA ESCOLA SUPERIOR DE ARTES DRAMÁTICAS DE CASTELA E LEÃO, ESPANHA: Daniel Velasquez
APOIO TÉCNICO DA EQUIPA DO TGR: Ana Duarte, Carlos Mavioso, Margarida Mouro, Miguel Madeira, Paulo Carocho, Sílvia Rosado e Tomé Baixinho
DISTRIBUIÇÃO: Vítor Fialho
LIMPEZA: Fernanda Rochinha
AGRADECIMENTOS: Câmara Municipal de Évora, Carlos Ferreira, Graciete Fidalgo, Joana Espanca Bacelar, João Espanca Bacelar, Luís Inocentes
COCRIAÇÃO CENDREV – CENTRO DRAMÁTICO DE ÉVORA E ÉTER – PRODUÇÃO CULTURAL
Serpa
15 de novembro, 21h30. 2024
10º Cenas de Novembro, Baaal17, Cineteatro Municipal de Serpa
Datas anteriores:
Teatro Garcia de Resende
Espetáculo de 3 de novembro é inserido nos ENCONTROS DE TEATRO IBÉRICO 2024
Informações: (+351) 266 703 112 / Contactos
Compra de bilhetes: www.bol.pt